27 Agosto 2013 - PR 1

Gurudev, os Budistas dizem que não acreditam em Deus. Mesmo o Senhor Buda disse que não podemos adorar os ídolos. Agora Ele também era um ser iluminado, então o que eles quis dizer com isso?
Sri Sri Ravi Shankar: Senhor Buda nunca falou sobre Deus. Ele nunca realmente cogitou qualquer discussão sobre Deus. O que Ele disse foi – a primeira coisa é perceber que há miséria. As pessoas continuam negando que há miséria, muitos nem mesmo reconhecem isso. Muitas vezes se você conversar com uma pessoa doente, ela dirá “Eu estou perfeitamente saudável e bem”. Quanto mais egoísta a pessoa, maior é a negação.

Muitas vezes as pessoas estão muito miseráveis por dentro, mas vestem uma máscara de alegria ou mesmo agem de forma confiante e dominante por fora. Elas continuarão fingindo como se tudo estivesse bem, mas você pode ver a miséria rolando sobre seus rostos. Cada parte de seu corpo reflete a raiva, amargura, ódio e miséria. Isso que o Senhor Buda disse – que há miséria. Reconheça isso, e então há remédios para isso. Se alguém disser que ser miserável é minha natureza, então ninguém pode fazer nada sobre isso, nem mesmo o próprio Deus. Então a miséria não é nossa natureza, ela vem do samskaras (impressões da vida passada) ou karma. E isso pode ser removido por outro samskaras. Um remédio para isso é Pratyahara (um dos oito membros do Yoga que significa praticar o controle ou restringir os sentidos e entregá-los em seu interior). Outro remédio para isso é a meditação. Então através da meditação, pranayama e Satsang podemos nos libertar das misérias. É quando percebemos que nossa natureza é a felicidade, alegria. Da mesma forma que a luz afasta a escuridão, nosso Atma-shakti (a alma poderosa como consciência interior) remove miséria. No caminho do Sadhana, toda negatividade e distorções como medo, raiva etc desaparecem. O objetivo do Sadhana é fazer uma imersão nessa bem-aventurança indescritível que é parte da nossa natureza.

Senhor Buda disse as mesmas coisas que é ditto no Upanishads. Existe um verso:

Na karmana na prajaya dhanena tyagenaike amrta tvamanasuh |
Parena nakam nihitam guhayam vibhrajate yadyatayo visanti ||

(- Sanyasa Sukta, Maha Narayano Upanishad, 4.12)

Significa: Nem através das ações de uma pessoa (Karma), nem gerar descendentes nobres (referindo-se ao ‘Praja’ no verso acima), nem através da riqueza (Dhana) uma pessoa consegue alcançar o Senhor Supremo. Apenas através do sacrifício e renúncia (Tyaga) uma pessoa consegue alcançar a imortalidade (Amruta). Isto é o que o Senhor Buda disse também. Se você ler o Upanishads cuidadosamente e então ler o que o Senhor Buda disse, você descobrirá que dizem o mesmo. Não há nenhuma diferença.

É por isso que Shri Adi Shankaracharya é frequetemente chamado de Prachanna Baudha (um Buda Escondido ou não proclamado, significa uma pessoa iluminada), porque qualquer coisa que ele diz é muito similar ao que é mencionado no Budismo. Então não há diferença entre Sanatana Dharma (outro nome ao Hinduísmo) e Budismo. Os princípios são quase os mesmos. Eu não diria que são exatamente o mesmo, mas são de fato muito próximos. Budismo prega Shoonyavaad (o reconhecimento de que “tudo é nada”; Shunya significa Zero ou nada em Sânscrito), enquanto Vedanta prega Poornavaad (a crença central que “Tudo é Um e o todo”). No Budismo o primeiro passo importante é o reconhecimento da miséria, enquanto no Vedanta eles dizem que não há miséria. Eles dizem – ‘Acorde e veja! Você é replete de alegria (o Eu como bem-aventurança)’.

Então no Budismo quando a miséria desaparece, a alegria é vista e no Vedanta quando a alegria (do Eu) é reconhecida, miséria desaparece automaticamente. Então indo de baixo para cima e de cima para baixo, essas são duas abordagens diferentes. Mas o objetivo é o mesmo. Mesmo no Vedanta, não é dito que uma pessoa necessariamente adora ídolos. É dito que adorar o Atma-deva (referência ao Eu como Divino no interior do tempo do corpo físico) é a forma mais elevada de adoração. É por isto que há Puja. Em última instância em um ponto você vê tudo como a expansão do próprio eu, tudo aparece como uma manifestação daquele um Próprio. Quando uma pessoa reconhece que não há diferença entre o mundo e o Eu (Brahman) – que está presente em todos os lugares, nas árvores, nos ídolos, na terra, na água, no céu azul; então uma pessoa pode adorar qualquer coisa e em qualquer lugar (significado: alcançar um estágio onde uma pessoa vê tudo como a manifestação do seu Eu divino).

Mesmo no Rudra Puja, há uma regra ‘Na Rudram Rudram Archayeti’’ que significa até você se tornar Senhor Shiva (reconhecer sua própria verdadeira natureza divina), você não pode adorar o Senhor. Então você deveria primeiro se tornar Deus e então adorá-lo. Significa ser firmemente estabelecido no Eu. Então é dito que adorar Deus depois de se tornar Deus, é ser estabelecido no seu Eu. Puja é apenas uma brincadeira, é um leela (um jogo), uma maneira de expressar os sentimentos profundos de adoração.